OS TRABALHOS DO LINHO

 

I. 
Qualquer horta tinha linho
 Que mandavam com afã
 Tratavam com carinho
 A pensar no amanhã

II.
 Já bem seco e bagado
  Da linhaça o levavam
  E para ficar mais curado
  Na ribeira o mergulhavam
 
III.
 Quase não se dormia
 Com medo da trovoada
 Que levasse aquele linho
 Com alguma enxurrada
 
IV. 
Já tirada da ribeira
 Cheio de lodo e areia
 Seco em lugar tipo eira
 Em feitio de moreia
 
V. 
Na aldeia era maçado
  Pela gente que sabia
 Com um maço torneado
 Em pedras de cantaria
 
VI.
 Depois as espadadeiras
  Logo tiravam o tasco
  Com as espadelas de freixo
  Ou então de carrasco
 
VII. 
Passavam-.se nos celeiros
   Peça bem rendamentar
   De tabua e pregos inteiros
   Para as arestas tirar
 
VIII. 
Com as arestas tiradas
    Faziam pois as estrigas
   Que depois eram fiadas
   Por velhas ou raparigas
 
IX. 
Havia as fiadeiras
  Sempre de fuso na mão
  De dia as soalheiras
  E as noites ao serão
 
X. 
Puxavam das lindas rocas
  E a cuspi-o molhado
  Para fazer maçarocas
  Em fusos desempenados
 
XI.
 Para o linho amaciar
  Coziam as miadas
  Que depois de embarrelar
  Ficou mais branqueado
 
XII. 
Levavam a água quente
 Com cinza sempre a mistura
 Que nem com o detergente
 Dava ao linho mais brancura
 
XIII. 
Com as barrelas findadas
E Sarilhos bem cruzados
 Convertem as meadas
  Em novelos bem calcados
 
XIV.
Depois chegava a hora
A teia urdir
  Sempre pelo dia fora
 Até a noite cair
 
XV.
Com a teia no lugar
Não se para de tecer
Catrapum e o tear
Catrapum sempre a bater