• I.
Os casarões e os choupos
São locais de muita idade
Onde em tempos em Sampaio
Houve mais mocidade
• II.
No pradinho aqui tão perto
A noite o lobo oleava
E nos nabais deserto
Ver casas ninguém pensava
• III.
Nos choupos a canalhada
Passavam o seu recreio
A onde hoje eu passo
Nem sequer em lá vejo
• IV.
Casas vagas ninguém via
Porque a gente era de mais
Os brinquedos que havia
Arranjavam-nos os pais
• V.
Faziam grandes serões
Para linho e lá fiarem
E usavam lampiões
Para o gado acomodar
• VI.
Para cobrir telhados
Faziam em fornos a telha
Nas forjas para arados
Aguçavam muita relha
• VII.
Para fazer farinha
Havia moinhos no rio
Que pegavam a maquia miúda
Com água que corria
• VIII.
Os moinhos que antigamente
Esmagavam os cereais
Por culpa das invenções
Hoje já não moem mais
• IX.
Qualquer seara mondada
A mão em tempos de outrora
Toda a horta era regada
Com cegonho e nora
• X.
Num só poço se lavava
A roupa grosa ou fina
As duas lá se pisavam
Não nos pios mas na tina
• XI.
Num olmo do campanário
Fazia o ninho a cegonha
Que comia por fadário
Alguns bichos com peçonha.
• XII.
Toda a gente respeitava
Qualquer tipo de plantio
Que por herança ficava
Mesmo que fosse vadio
• XIII.
Nuns havia amendoeiras
E noutros cerejais
Os olmos e oliveiras
Essas eram sempre mais
• XIV.
Havia cinema no povo
Quase sempre num palheiro
Que pagavam com ovo
Por nunca termos dinheiro
• XV.
Havia serões com fama
Em contos de arrepiar
Mas ninguém se ia a cama
Sem as boas noites dar
• XVI.
Com um caixote a cabeça
Negociavam o sardinheiro
Noite e dia em tropeça
Trabalhava o sapateiro
• XVII.
Não havia freixo nem olmo
Que ficasse por ripar
Nem uma casa sem colmo
Para o porco chamuscar
• XVIII.
Ninguém tinha o termómetro
Para ver a temperatura
E na loja um gasómetro
Dava luz a noite escura
• XIX.
Pelos reis velhas cantigas
Porta a porta eram cantadas
O rapaz e as raparigas
Que faziam as risadas
• XX.
Porque eram em dias santos
Todo o trabalho parava
Mas a noite em qualquer canto
Velhos e novos os reis cantavam
• XXI.
De ouro eram as recadas
Que traziam nas orelhas
Tanto as mulheres casadas
Quer fossem novas ou velhas
• XXII.
Nas feiras ou romarias
Tinham prazer em mostrar
Porque antes não havia
Quem pensasse em rouba-las
• XXIII.
Para o capador imitar
Faziam gaitas de freixo
E para o fito jogar
Punham um vinte de seixo
• XXIV.
Antigamente as moçoilas
Faziam umas bonecas
Com botões de papoulas
Atavam com palhas secas
• XXV.
Outras mesmo só com trapos
Faziam mona bonita
Que vestiam com farrapos
De riscado ou de chita